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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Entenda por que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo...

Professor diz que a lentidão do Estado em proibir o uso agrotóxicos prejudiciais à saúde causa mortes

por Mariana Lucena


O Brasil é campeão mundial de uso de agrotóxico, embora não seja o campeão mundial de produção agrícola. O País ainda é o principal destino de agrotóxicos barrados no exterior. Para entender por que isso acontece, entrevistamos o pesquisador do assunto, Wanderley Pignati, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Por que o Brasil lidera o ranking de uso de agrotóxicos? Temos mais pragas que os demais países? É uma somatória de razões. A mais óbvia é que somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, de soja principalmente. Uma outra é que nossas sementes melhoradas já são pensadas para usar agrotóxicos. São selecionadas até um certo ponto em que, realmente, dependem destes produtos. E, para dar a produtividade que se espera, demandam grandes quantidades. Em terceiro lugar, não temos mais pragas, mas, por usarmos agrotóxicos há tantos anos, nossas pragas ficaram mais resistentes. É um espiral que vai aumentando. Como outros países evitam o uso de agrotóxicos? Eles limitam o uso de agrotóxicos mais tóxicos. Aqui usamos agrotóxicos que foram proibidos em 1985 na União Européia (UE), Estados Unidos e Canadá. No Brasil, estamos tentando revisar o uso de 14 tipos há dois anos e não conseguimos, porque dependemos do parecer do Ministério da Agricultura, do Ministério do Meio Ambiente e o parecer do próprio sindicato dos produtores.
Na UE existe uma fiscalização mais rigorosa. Aqui aplicamos dezenas de agrotóxicos por avião, coisa que é proibida lá. Jogamos agrotóxicos por avião perto de casas, animais, gado, nascentes de rios e córregos. Outro fator importante é a conscientização da população europeia, que cobra este tipo de cuidado do governo e dos produtores. Agrotóxico faz mal mesmo se for usado corretamente? Não existe uso seguro. Isso é uma fala dos produtores de agrotóxico. Por exemplo, se o trabalhador que aplica estiver como um astronauta – isolado com todos os equipamentos de proteção (EPI), inclusive para respirar – ele é menos prejudicado, mas não existe uma proteção 100% dos trabalhadores. E qual a proteção ao ambiente? Isso vai sempre deixar resíduos em alimentos, contaminar rios, ar, lençóis freáticos. Que segurança é essa?
E se formos mais a fundo nessa discussão, veremos que é uma contaminação intencional. Em termos jurídicos, fala-se em crime culposo quando a pessoa não teve a intenção de cometê-lo e doloso quando teve. Aqui não é um crime culposo. Não é culpa do vento que mudou o agrotóxico de direção, mas do agricultor que cometeu um ato inseguro e intencional. Existe a intenção de poluir para atingir o alvo dele – no caso, os insetos, as pragas. Ele aceita conscientemente essa consequência. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as intoxicações por agrotóxicos são três milhões anuais. Destes, 2,1 milhões de casos acontecem nos países em desenvolvimento. Mais de 20 mil pessoas morrem no mundo, 14 mil estão nas nações do terceiro mundo. Existe alguma razão para que essas mortes concentrem-se nestes países? Utiliza-se mais agrotóxico, em primeiro lugar, porque se produz mais alimentos em países em desenvolvimento. Muitas dessas lavouras usam agrotóxicos proibidos na União Europeia, EUA e Canadá. Ora, se são mais tóxicos e proibidos lá, naturalmente acontecerão mais mortes aqui na América Latina e na África. E quer saber mais? Muitos desses agrotóxicos são produzidos no primeiro mundo e vendidos para o terceiro. Como um agrotóxico provoca a morte de uma pessoa? Que outros males eles podem causar à saúde? Depende do agrotóxico. Aqui no Mato Grosso, por exemplo, já vimos caso de trabalhador que estava no trator com o ar condicionado ligado, jogando agrotóxico. Como o filtro de ar estava vencido, e ele não usava máscara dentro do trator, morreu de intoxicação aguda. Alguns agrotóxicos também causam câncer, problemas neurológicos, má formação fetal e desregulação endócrina. São extremamente prejudiciais à saúde humana. Estão na água, no ar, na chuva.
Os defensivos agrícolas demoram de três a quatro anos para degradar e o produto é tão prejudicial quanto a substância inicial. Um grande problema são doenças crônicas que acontecem durante anos de uso continuado de níveis baixos de agrotóxicos. Existe hoje a determinação de um limite máximo de resíduo por alimento. Esse limite não deveria existir, é absurdo. Cada pessoa tem uma sensibilidade diferente ao produtos. Sabe como esse limite é determinado? A partir da média da sensibilidade das pessoas, são medidas arbitrárias. No Brasil, por exemplo, um quilo de soja pode ter 10 miligramas de glicosato [princípio ativo de um agrotóxico famoso]. Nos EUA o limite é de 5 mg, na Argentina 5 mg, mas na Europa é 0,2 mg.
Qual a punição dada ao agricultor que permite que seus funcionários ou clientes sejam intoxicados no Brasil? Primeiro ele vai responder ao Ministério do Trabalho, porque será notificado como um acidente de trabalho. Depois, podem entrar com uma ação de crime doloso [intencional] contra ele. Porque se contratou, tem que dar toda a proteção ao trabalhador. A punição depende muito da força do Sindicato. Na sua opinião, os alimentos transgênicos são uma solução para o uso de agrotóxicos? Pelo contrário. Alguns transgênicos são feitos para ser mais resistentes aos agrotóxicos, por isso se usa ainda mais, como a soja resistente ao glicosato. Quais são as lavouras que mais usam agrotóxicos no Brasil? Por hectare é o algodão. Logicamente não comemos algodão, mas sua semente é usada para fazer ração de gatos e outros animais. Outras lavouras que usam muito agrotóxico são as de tomate, morango, hortaliças em geral, soja e milho. Como se proteger? Basta lavar bem as verduras e legumes? Não. O consumidor deve também consultar os dados do PARA [Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos] da Anvisa. Nos dados de 2009, ele descobrirá os alimentos que têm problemas e poderá evitá-los. Mas é preciso ainda pressionar a Secretaria de Saúde e do Meio Ambiente para que façam uma vigilância mais dura.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Butantan desvenda hemorragia da picada de jararaca...

Estudo inédito do Instituto Butantan, em São Paulo, demonstrou pela primeira vez a forma com que a toxina hemorrágica presente no veneno da jararaca se liga aos vasos sanguíneos.
A descoberta pode auxiliar a desenvolver novos medicamentos que evitariam amputações de membros. O estudo é de ampla utilidade, já que as picadas de jararaca representam 90% do total de acidentes com serpentes no Brasil, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Segundo a pesquisa, a substância se fixa às proximidades dos vasos, comprometendo sua integridade e induzindo o sangramento local, que se constitui um dos principais sintomas do envenenamento por jararacas. “Quando ocorrem acidentes com jararacas, há dois tipos de sintomas: os locais, que ocorrem no local da mordida, e os generalizados, que acometem o organismo como um todo”, explica a pesquisadora Ana Maria Moura, uma das responsáveis pelo estudo.
Antiofídico - “O soro antiofídico produzido em cavalos é capaz de neutralizar os efeitos sistêmicos, impedindo a morte do paciente, mas não consegue reverter os efeitos locais tais como a hemorragia, que podem resultar em sequelas graves como a amputação do membro afetado”, completa ela. A descoberta pode auxiliar no tratamento oferecido em casos de acidentes envolvendo esse tipo de serpente. Isso porque, a partir do conhecimento de como a toxina age, será possível utilizar inibidores capazes de impedir sua atuação. Para isso, entretanto, são necessários estudos complementares. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e foi publicada na revista clínica americana de doenças negligenciadas “PLoS Neglected Tropical Diseases”. Também participaram do estudo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA).
“É importante lembrar que o soro antiofídico existente continuará a ser utilizado. A idéia é aplicar inibidores que ‘ataquem’ diretamente toxinas responsáveis pelos danos locais, barrando os efeitos hemorrágicos causados por esse tipo de acidente”, diz Cristiani Baldo, que também participou da pesquisa.

(Fonte: Folha.com)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pesquisador acha planta que neutraliza veneno da surucucu...

Uma árvore de quatro a seis metros de altura pode ser a nova arma contra o veneno da surucucu, a maior serpente venenosa da América do Sul. Uma pesquisa realizada na UFF (Universidade Federal Fluminense) constatou que um extrato feito a partir da Stryphnodendron barbatiman, popularmente chamada de barbatimão, barba-de-timão, casca da virgindade ou ubatima, é capaz de neutralizar os principais efeitos provocados pela picada da cobra.
A descoberta poderá levar ao desenvolvimento de um novo tratamento contra o veneno da surucucu, que provoca dor intensa, hipotensão, diminuição do ritmo cardíaco, diarreia e hemorragia. A cobra está presente em todo o território nacional e, entre 2001 e 2004, respondeu por 2,3% dos ataques registrados no Brasil. Seu índice de letalidade, porém, é quase três vezes maior do que o das serpentes do gênero Bothrops, que respondem por 90% dos ataques no país –cerca de 1% das vítimas da surucucu morrem após serem picadas.
Soro antiofídico – Atualmente, o procedimento preconizado pelo Ministério da Saúde em casos de picada de cobras venenosas é a administração de soro antiofídico, produzido a partir de anticorpos produzidos por cavalos inoculados com o veneno. O soro, porém, tem as desvantagens de ser caro, necessitar de estocagem em baixas temperaturas e provocar reações alérgicas graves em parte dos pacientes. Além disso, é ineficaz contra os efeitos locais das picadas, que muitas vezes deixam sequelas. Em busca de alternativas de tratamento, o pesquisador Rafael Cisne de Paula pesquisou 12 espécies diferentes de plantas como parte do seu trabalho de mestrado em Neuroimunologia na UFF.
Dessas, apenas uma se mostrou totalmente ineficaz. O extrato produzido a partir da barbatimão, porém, foi o único que conseguiu inibir em mais de 80% os principais efeitos do veneno analisados, impedindo inclusive o desenvolvimento de hemorragias.
Não foi testada, porém, a eficácia da planta sobre a formação de edemas e outras consequências da picada. Os testes foram realizados em camundongos e, por enquanto, ainda não se sabe qual o mecanismo de ação da planta. Estudos posteriores poderão identificar e isolar os componentes responsáveis pelos efeitos neutralizantes.

(Fonte: Denise Menchen/ Folha.com)

terça-feira, 20 de julho de 2010

EXCLUSIVO: Estudo identifica efeitos da poluição no Parque do Ibirapuera, em São Paulo...

Um levantamento realizado no Parque Ibirapuera, localizado na região central da cidade de São Paulo, identificou a presença de 51 famílias e 336 espécies diferentes de árvores. O estudo, da engenheira agrônoma agrônoma, Tiana Carla Lopes Moreira, do Programa de Pós Graduação em Recursos Florestais, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP/ESALQ, avaliou a interação da floresta urbana com a poluição atmosférica.
Entre fevereiro e março de 2009 foram coletadas folhas de paineiras, jacarandá mimoso e ipê roxo. “As espécies encontradas no Ibirapuera permitem a compreensão do comportamento delas no contexto urbano com forte influência da poluição atmosférica”, explicou a pesquisadora. Os elementos presentes nas árvores foram determinados por meio da técnica de fluorescência de raio X. Foram identificados os elementos provenientes das emissões veiculares, para que se fizesse uma relação com a interação dessas substâncias com a vegetação. “Buscamos verificar se existiam diferenças na retenção de poluentes de espécies arbóreas comuns na cidade de São Paulo e se é possível utilizar folhas de árvores para o bioacumuladores de poluentes atmosférico”, afirmou.
Uma das conclusões estudo é que a vegetação pode atuar como filtro, amenizando os efeitos da população. Mas, para que o efeito protetor seja mensurado, seria necessário avaliar, também, a densidade da vegetação. Segundo o estudo, nas regiões mais próximas das bordas do parque o ferro, o cromo e cobre aparecem mais.

Fonte: Danielle Jordan / Ambientebrasil
*Com informações da ESALQ/USP.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Descoberto mais um benefício do cultivo de adubos verdes

Dentre os diversas vantagens, a mucuna-preta e o feijão-de-porco descontaminam o solo afetado com resíduos de herbicida...

Já se sabe que o cultivo de espécies vegetais da família das leguminosas pode trazer inúmeros benefícios aos agroecossistemas, tais como: aporte de nitrogênio (N) ao solo, devido à simbiose com bactérias fixadoras de N atmosférico; descompactação do solo, resultante da ação de raízes pivotantes; ciclagem de nutrientes, depositando nas camadas superficiais nutrientes absorvidos de camadas mais profundas; adição de matéria orgânica ao solo; incremento da atividade biológica dos solos; e proteção do solo contra processos erosivos.
Uma equipe multidisciplinar de pesquisadores de quatro instituições (Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e Embrapa Tabuleiros Costeiros) descobriu mais um benefício de duas espécies de adubos verdes - mucuna-preta (Stizolobium aterrimum) e feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) – a capacidade de descontaminar solos com resíduos de herbicidas. Alguns herbicidas registrados para uso em diversas culturas agrícolas no Brasil apresentam a característica de continuar ativo no solo por um longo período de tempo. O uso desses herbicidas pode impedir o plantio de outras culturas na mesma área por vários meses ou até anos. O uso do herbicida picloram pode exemplificar essa situação, pois após a sua aplicação no solo, deve-se esperar, em média, três anos para que se possa efetuar a semeadura de uma cultura sensível, com segurança, na mesma área.
Do ponto de vista ambiental a redução desse período de atividade residual do herbicida no solo também é positiva. Quanto maior o tempo que um herbicida permanece ativo no solo, maior é a probabilidade de ocorrer a lixiviação de suas moléculas no perfil do solo, podendo atingir e contaminar os mananciais de água subterrânea. Trabalhos científicos comprovaram que o cultivo das espécies mucuna-preta e feijão-de-porco pode auxiliar na redução do nível de atividade no solo dos herbicidas trifloxysulfuron sodium e tebuthiuron. Com a aplicação dessa técnica pode-se reduzir significativamente o intervalo entre a aplicação desses herbicidas e a semeadura de uma espécie cultivada que não apresenta tolerância à presença dessas moléculas no solo.
Essa técnica de se utilizar plantas no intuito de se promover uma descontaminação de áreas agrícolas ou mesmo industriais é denominada de fitorremediação.
Essas pesquisas reforçam ainda mais os benefícios que o cultivo de adubos verdes pode proporcionar para as áreas agrícolas (otimização do uso da terra e redução da contaminação ambiental), mostrando a importância da inserção dessas espécies em sistemas de produção sustentáveis.

Por:
*Sergio de Oliveira Procópio é pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros
*Fábio Ribeiro Pires é professor da Universidade Federal do Espírito Santo

quarta-feira, 31 de março de 2010

3 dos 4 remédios para emagrecer mais consumidos podem causar dependência

Dos quatro medicamentos para emagrecer mais consumidos no país, conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), três são anfetaminas, drogas sintéticas que podem causar dependência no caso do uso abusivo, segundo o Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas (Ceatox) de São Paulo. São os medicamentos anorexígenos à base de anfepramona, mazindol e femproporex.
O inibidor de apetite sibutramina, também entre os mais consumidos e vendido comercialmente com os nomes de Reductil, Plenty e Sibutral, não causa dependência, segundo o Ceatox. No entanto, os remédios à base da substância terão controle mais rigoroso a partir desta terça-feira (30), de acordo com a Anvisa, porque podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares. O toxicologista Antônio Wong, chefe do Ceatox, explica que, entre os anorexígenos, o femproporex é o que mais pode causar dependência. "O uso abusivo da anfepramona e do mazindol também podem levar ao quadro de dependência, mas ocorre com menos frequência", destaca. Anfepramona, mazindol e femproporex já são remédios tarja preta, dentro do grupo "B2", no qual é preciso que o paciente apresente uma receita especial, de cor azul, para efetivar a compra no estabelecimento farmacêutico. A sibutramina, que era do grupo "C1", no qual pede-se a receita branca em duas vias, passou para o grupo "B2". A indústria farmacêutica terá 180 dias para adequar a embalagem de tarja vermelha para preta, mas os médicos já devem começar a prescrever com a receita azul. Confira no infográfico abaixo os remédios que podem causar dependência. Wong informou que, embora a sibutramina seja um inibidor de apetite, também é usado como antidepressivo. "Ele é eficiente como antidepressivo, mais que a fluoxetina (vendido com os nomes comerciais Prozac e Daforin). O controle não se deu por causa do perigo do uso abusivo, mas sim porque estudos mostram o risco cardiovascular, arritmia. A Europa retirou do mercado, mas o governo brasileiro, para não deixar os endocrinologistas sem opção, aumentou a fiscalização", destaca o toxicologista, que presta consultoria para a Anvisa. O toxicologista destaca que não há uso abusivo somente entre os remédios que causam dependência. "Pode haver uso abusivo de todo tipo de medicamento. Se a pessoa se sente bem com o remédio, pode acabar tomando mais do que o receitado pelo médico", destaca.
Antônio Wong afirma que o uso abusivo dos anorexígenos afetam a coordenação motora. Há relatos de pessoas que morreram devido ao consumo em excesso. Em entrevista ao G1 sobre o uso abusivo de medicamentos, o Ministério da Saúde afirmou que o governo se preocupa com a questão: "É um problema grave no Brasil. (...) Acho importante abordar essa situação porque, para a saúde pública, as drogas ilegais, legais e prescritas podem apresentar danos comparáveis. Nós sabemos que, de todas as drogas, as mais danosas são duas legais, o álcool e o tabaco. E, entre as que não são ilegais, existe ainda o problema dos medicamentos que podem causar dependência", disse o coordenador geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Pedro Gabriel Godinho Delgado.
Consumo - Segundo dados divulgados pela Anvisa nesta terça, que integram o primeiro relatório do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), que começaram a ser coletados em 2007, os quatro anorexígenos tiveram consumo de quase seis toneladas no ano passado. Deles, os mais consumidos foram, pela ordem: anfepramona (3 toneladas), sibutramina (1,8 tonelada), femproporex (1,04 tonelada) e mazindol (2 kg).Os dados se referem às informações repassadas por 38.500 estabelecimentos farmacêuticos, cerca de 62% da rede privada no país. A Anvisa destacou que não é possível aferir se houve alta no consumo pois se trata do primeiro relatório. Além dos quatro anorexígenos mais vendidos, a Anvisa também verificou dados de venda do antidepressivo fluoxetina (3,5 toneladas em 2009) e do estimulante metilfenidato (174 kg em 2009), para tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que faz parte do grupo das anfetaminas e também pode causar dependência devido ao uso abusivo. Na avaliação da Anvisa, o SNGPC permite um maior controle para conter o uso abusivo de medicamentos. "Assegura um controle muito mais estrito e, conseqüentemente, promove o uso racional dos medicamentos que podem causar dependência física ou psíquica", diz a Anvisa em nota.
Maiores prescritores - Ao analisar os dados do sistema, o órgão de vigilância sanitária verificou que entre os 10 maiores prescritores dos anorexígenos não estão profissionais ligados à área de endocrinologia, o que seria esperado.O maior prescritor do femproporex é um dermatologista, conforme a Anvisa. Entre os dez maiores prescritores de sibutramina, está um médico do tráfego, que cuida da saúde de caminhoneiros e profissionais do trânsito. Entre os dez médicos que mais prescreveram anfepramona no Brasil no ano passado, estão um ginecologista e outro gastroenterologista. Entre os que mais prescrevem o emagrecedor mazindol há um pediatra. A Anvisa disse que comunicou ao Conselho Federal de Medicina sobre os maiores prescritores dos medicamentos anorexígenos, para que seja investigado se há irregularidades.
Manipulados - Segundo dados da Anvisa, a anfepramona, também conhecida por dietilpropiona, é vendida pelo menos quatro vezes mais na forma manipulada do que na industrializada. "[Isso] pode ser justificado pela diferença de preço deste medicamento manipulado, que geralmente é muito menor que o preço dos produtos industrializados vendidos em drogarias e pela tendência de dosagem personalizada para cada paciente", diz nota da Anvisa. A sibutramina também é vendida mais na forma manipulada.

(Fonte: G1)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Poluição da Ásia sobe à estratosfera e circunda a Terra por anos, alerta estudo

A poluição, em forte aumento na Ásia com a recente explosão do crescimento econômico da região, é transportada para a estratosfera durante a temporada das monções e circula ao redor do planeta por anos, alertou um estudo publicado nos Estados Unidos. Com base em observações por satélite e modelos informáticos, cientistas determinaram que, por causa das monções, a circulação do vento no verão transporta rapidamente o ar da superfície da Terra para a alta atmosfera.
Estes movimentos ascendentes fazem com que as partículas de carbono, óxido de enxofre e de nitrogênio, bem como outros contaminantes, alcancem a estratosfera, a uma altitude entre 32 e 40 km." A monção é um dos sistemas mais potentes de circulação atmosférica no planeta e este fenômeno sazonal ocorre justo sobre uma região muito contaminada", explicou William Randel, do Centro Americano para Pesquisa Atmosférica (NCAR), principal autor do trabalho, que será publicado na edição desta sexta-feira (26) da revista Science."
A consequência é que a monção oferece um meio de transporte destes contaminantes para a estratosfera", acrescentou. Uma vez na estratosfera, os contaminantes circulam ao redor da Terra durante vários anos antes de cair na atmosfera e se desintegrar. Segundo o estudo, o impacto da contaminação da Ásia na estratosfera poderá aumentar consideravelmente nas próximas décadas devido ao crescimento da atividade industrial na China e em outras economias em desenvolvimento na região. Além disso, as mudanças climáticas poderiam afetar as monções na Ásia, sem que se saiba ainda se o fenômeno reforçaria ou enfraqueceria as correntes ascendentes que transportam os contaminantes para a estratosfera, concluíram os pesquisadores.

(Fonte: G1)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Venenos de interesse....

Reunindo o trabalho de mais de 120 cientistas de 20 países, o livro Animal Toxins: state of the art. Perspectives in health and biotechnology, que acaba de ser lançado, tem o objetivo de sintetizar o conhecimento internacional acumulado nos últimos anos sobre toxinas encontradas em animais marinhos, artrópodes e serpentes – além de catalogar suas mais novas aplicações em medicina e biotecnologia. A editora-chefe do livro, Maria Elena de Lima – presidente da Sociedade Brasileira de Toxinologia (SBTx) e professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que a importância da biodiversidade brasileira justifica que a obra, de alcance internacional, tenha sido publicada por aqui (pela Editora UFMG). “Os produtos animais derivados dessas substâncias biologicamente ativas são focos atuais da ciência na busca de novos medicamentos e aplicações em biotecnologia. Como o Brasil possui cerca de 25% da biodiversidade mundial, sentimos a obrigação de liderar essa iniciativa”, disse Maria Elena à Agência FAPESP.
Além de Maria Elena, outros quatro pesquisadores se encarregaram da edição da obra: Adriano Monteiro de Castro Pimenta, também professor do ICB-UFMG, Russolina Benedeta Zingali, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e os franceses Marie France Martin-Eauclaire e Hervé Rochat, pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Científica. A equipe selecionou os autores entre aqueles que haviam dado contribuições mais relevantes à toxinologia animal nos últimos anos. O resultado foram 750 páginas divididas em 39 capítulos, com contribuição de mais de 120 cientistas que trabalham com diferentes aspectos da toxinologia em 20 países.
O papel de destaque do Brasil no cenário internacional da pesquisa em toxinologia, segundo Maria Elena, não se deve somente à imensa biodiversidade. A tradição dos estudos na área remonta aos trabalhos de Vital Brazil (1865-1950). Entre os autores que contribuíram com o livro há cientistas de instituições com grande histórico de pesquisas na área, incluindo o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além do Instituto Butantan, pioneiro em toxinologia no país, participaram também pesquisadores de instituições paulistas como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Uma evidência de que o Brasil tem excelência na área é que na revista Toxicon, uma das principais da área, temos vários editores brasileiros e calcula-se que até 30% das publicações são provenientes do país”, afirmou. A professora acredita que atualmente os pesquisadores da área de toxinologia estão recebendo incentivo satisfatório no Brasil. “Isso é importante porque está relacionado à defesa do nosso material biológico, que é bastante raro e cobiçado. Queremos decifrar as possibilidades existentes nessas substâncias a fim de nos tornarmos proprietários delas”, disse. Para garantir o domínio do conhecimento na área, segundo Maria Elena, é preciso capacitar recursos humanos especializados. A obra também deverá dar sua contribuição nesse aspecto. “O livro é voltado para cientistas, mas também para estudantes de todos os níveis, em áreas como biologia, farmácia, biotecnologia e biomédicas e biológicas em geral”, apontou. Segundo ela, havia carência, no meio científico, de uma obra abrangente que reunisse resultados de pesquisas e possibilidades de aplicações em saúde e biotecnologia. “Antes, as moléculas de interesse extraídas das toxinas animais eram usadas apenas em tratamentos de problemas de saúde. Hoje elas já são bastante utilizadas em experimentos para estudar, por exemplo, funções do sistema nervoso e cascatas de coagulação. Portanto, as toxinas podem ser usadas como ferramentas”, explicou.
Outra vertente atual, segundo Maria Elena, consiste em procurar conhecer o efeito biológico das toxinas para entender como elas interferem em funções do organismo perdidas ou exacerbadas. “Podemos usar essas moléculas como modelos de fármacos, como foi o caso do captopril, medicamento para hipertensão que teve base em uma toxina do veneno de jararacas”, disse. O laboratório coordenado por Maria Elena na UFMG, por exemplo, isolou uma molécula com funções anti-hipertensivas, isolada do veneno do escorpião. “Essa molécula, no entanto, age por mecanismos distintos daquela extraída da toxina da jararaca e poderá resultar em um medicamento alternativo para os pacientes nos quais o captopril não faz efeito”, disse.

(Fonte: Agência Fapesp)